II Timóteo 4:6-8
6 Quanto a mim, já estou sendo derramado como libação, e o tempo da minha partida está próximo.
7 Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.
8 Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda.
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A morte de Ivan Ilitch
"Era no fim do terceiro dia, duas horas antes da sua morte. Precisamente nesse momento o menino entrou devagarinho no quarto e foi até junto da cama. O moribundo ainda gritava desesperadamente e sacudia as mãos. A sua mão caiu na cabeça do menino e o menino agarrou-a, levou-a aos lábios e começou a chorar.
Nesse instante, precisamente, Ivan Ilitch sentiu-se cair, viu a luz no fundo do negro saco e foi-lhe revelado que, embora sua vida não fosse o que poderia ter sido, ainda podia ser retificada. Pensou: "Isso, que é?" E ficou em silêncio, apurando o ouvido. Então sentiu que alguém lhe beijava a mão. Abriu os olhos, viu o filho e teve pena dele. A mulher veio até ele; olhou-a um instante. Ela o olhava, num desespero, boca aberta, lágrimas quentes no nariz e na face e um olhar dramático. Teve pena dela também.
"Sim, estou a atormentá-los", pensou. "Eles lamentarão, mas será melhor para eles quando eu morrer." Queria dizer isso, mas não teve forças. "Além disso, para que falar? Devo agir", pensou. Com um olhar à mulher, apontou o filho e disse: "Leve-o... Tenho pena dele... tenho pena de você também..." Tentou acrescentar: "Desculpe", mas disse: "Descanse", e fez um aceno, sabendo que Aquele cuja compreensão importaria iria compreender.
De repente sentiu muito vivamente que o que o atormentava e oprimia ia se dissipando, deixava-o por ambos os lados, por dez lados, por todos os lados. Tinha pena deles, devia agir de modo a não feri-los: descançá-los e libertar-se desse sofrimento. “Como é bom, como é simples!”, pensou. “E a dor?”, perguntou. “Que fim levou? Onde estás, dor?”
Prestou atenção à dor.
“Bem, aqui está. E agora? Deixe a dor doer.”
“E a morte... Onde está?”
Procurou o temor cotidiano da morte e não o encontrou. “Onde esta'? Que morte?” Não havia temor, porque não havia morte.
Em lugar da morte havia luz.
- Então era isto! – exclamou de repente, em voz alta. – Que alegria!
Para ele tudo acontecera num instante, e o sentido desse instante não mudou. Para os presentes a sua agonia continuou por mais duas horas. Algumas coisa roncava no seu peito, o corpo escarnado estremeceu. Depois, pouco a pouco, os estremecimentos e os estertores rarearam.
- Acabou! – disse alguém perto dele.
Ele ouviu esta palavra e repetiu-a na sua alma. “Acabou a Morte”, pensou “A Morte já não existe!”
Aspirou profundamente, interrompeu a respiração, inteiriçou-se e morreu."
Fontes:
Parte digitado por mim, parte copiado do blog de Fabio Ricardo R. Brasilino.
http://fabiobrasilino.zip.net/
Tolstoi, Leão. A morte de Ivan Ilitch, tradução de Carlos Lacerda. Lacerda Editores.
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